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O Último Sermão de Rushdoony

​Quando me sentei ao lado dele na manhã de sua morte, eu estava lembrando-me de um artigo que ele tinha escrito em 1982, intitulado “O que Aconteceu com as Cenas de Leito de Morte?”. Nele papai discutiu como nossa visão da morte mudou de um cenário religioso de despedida e bem-aventurança para um final frio, estéril e impessoal no hospital. Pensei na infelicidade de ser-lhe negada sua própria cena de leito de morte. Sua dor era intensa e ele estava despertando e adormecendo de um sono perturbado. Várias vezes nos dias anteriores eu tinha orado com ele, pedindo que Deus fosse misericordioso com ele em seus dias e horas finais, assim como Ele seria por toda a eternidade.

Mark R. Rushdoony
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Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

Eu dei um relato parcial do que segue num anúncio via e-mail sobre a partida do meu pai, na manhã seguinte após sua morte. Muitas pessoas pediram-me para escrever um relato mais completo.

Meu pai escreveu quase sobre tudo. Quando me sentei ao lado dele na manhã de sua morte, eu estava lembrando-me de um artigo que ele tinha escrito em 1982, intitulado “O que Aconteceu com as Cenas de Leito de Morte?”. Nele papai discutiu como nossa visão da morte mudou de um cenário religioso de despedida e bem-aventurança para um final frio, estéril e impessoal no hospital. Pensei na infelicidade de ser-lhe negada sua própria cena de leito de morte. Sua dor era intensa e ele estava despertando e adormecendo de um sono perturbado. Várias vezes nos dias anteriores eu tinha orado com ele, pedindo que Deus fosse misericordioso com ele em seus dias e horas finais, assim como Ele seria por toda a eternidade.

Ele acordou várias vezes para ver Mamãe, minhas irmãs e eu, e alguns dos netos. Ele perguntou quando a reunião começaria e quem estaria falando. Eu lhe disse que não haveria reunião, e que seria apenas a família. “Oh!” ele disse, e balançou sua cabeça reconhecendo que estava tendo problemas em separar o sonho da realidade. Minhas irmãs pediram-me que lesse a Escritura.
Nos dias anteriores ela tinha o ajudado a se concentrar, assentindo a passagens particulares. Dessa vez eu li 1 Coríntios 15 em sua inteireza. A princípio eu não estava certo que ele estivesse despertado o suficiente para ouvir, mas comecei a ficar engasgado perto do final, à medida que ele reconhecia passagens-chave com “Sim, sim” várias vezes. Às 11:45 da manhã eu terminei e Papai abriu os olhos, inclinou-se para frente e com um voz subitamente forte começou a ministrar à sua família uma vez mais.

“Essa é uma passagem magnificente. O que ela significa é que essa vitória que Ele começou em mim, continuará em cada um de você, e em seus filhos, e nos filhos dos seus filhos, e nos filhos deles.

“A vitória é nossa e dessa forma devemos lutar. Possa Ele vos dar toda a força para lutar a batalha. Temos uma batalha para lutar e uma obrigação de vencer.

“Temos uma vitória certa. Fomos ordenados à vitória.

“Não posso falar muito mais.

“Temos uma ordenação à vitória nessa batalha.

“Oh, meu Deus, tenha misericórdia de nós. Oh, meu Senhor!

“Oh, meu Deus, te agradecemos por esse grande chamado à vitória.

Oh, meu Deus, nos abençoe nessa batalha!

“Eu não posso continuar. Estamos todos cansados. Eu não posso continuar. Falaremos sobre isso quando estivermos capazes de pensar melhor.”

Tínhamos ouvido o seu último sermão.

E então, fiel à fórmula, meu pai fez o que tinha feito por muitos, muitos anos. Ele perguntou: “Há mais alguma pergunta?”

Minhas irmãs e eu não pudemos senão sorrir um para o outro. Nenhum de nós queria esforçá-lo mais, de forma que minhas irmãs, Joanna e Rebecca, expressaram sua gratidão a Papai pela bênção que ele tinha sido, e então me encorajaram a orar.

Tudo o que eu pude fizer foi: “Nosso mui gracioso Deus e Pai Celestial, te agradecemos por tua bondade a essa família. E te agradecemos por Papai e o que ele tem significado para nós. Oramos para que Tu mostres misericórdia a ele nesse momento. Em nome de Cristo, o nosso Salvador.
Amém.”

Papai respondeu: “Amém e Amém.”

Minhas irmãs sugeriram uma bênção.

“Papai, as meninas queriam que eu pronunciasse uma bênção”, eu
disse, segurando a sua mão.

“Sim”, ele respondeu.

“E agora vão em paz, e possa Deus o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo, vos abençoar e guardar, guiá-los e protegê-los, nesse dia e sempre, Amém.”

Um pouco depois Papai disse a Mamãe: “Dorothy.”

“Sim, querido?”, ela respondeu.

“Dorothy, ore por mim.”

“Eu oro, querido. Deus te ouve e Ele te ama.”

“Dorothy”.

“Sim, querido?”

“Eu te amo. Ajude-me.”

“Meu bem, Deus está te ajudando. Ele está te levando para casa. Ele está te levando para casa.”
Essa foi a última coisa que ele parece ter ouvido.

Ele perdeu a consciência pela última vez um pouco mais tarde. Sua respiração tornou-se irregular por volta de 9:25 da noite. Eu me sentei ao seu lado e segurei sua mão. Minha irmã Sharon manteve-se atrás dele e acariciava sua cabeça. Minha irmã Marta ficou sentada aos seus pés.

Papai teve a sua cena de leito de morte, e Papai tinha pregado o seu último sermão.

Mas pelo que sou mais grato é que Deus foi misericordioso, pois Rousas John Rushdoony passou para a eternidade em paz às 9:48 da noite, de 8 de fevereiro de 2001.


Fonte: Faith for All of Life, Abril 2001

1 E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em outubro/2008.
Monergismo.com


Mark R. Rushdoony
  • Mark R. Rushdoony

Mark R. Rushdoony graduated from Los Angeles Baptist College (now The Master’s College) with a B.A. in history in 1975 and was ordained to the ministry in 1995.

He taught junior and senior high classes in history, Bible, civics and economics at a Christian school in Virginia for three years before joining the staff of Chalcedon in 1978. He was the Director of Chalcedon Christian School for 14 years while teaching full time. He also helped tutor all of his children through high school.

In 1998, he became the President of Chalcedon and Ross House Books, and, more recently another publishing arm, Storehouse Press. Chalcedon and its subsidiaries publish many titles plus CDs, mp3s, and an extensive online archive at www.chalcedon.edu. His biography of his father will be published later this year (2024).

He has written scores of articles for Chalcedon’s publications, both the Chalcedon Report and Faith for all of Life. He was a contributing author to The Great Christian Revolution (1991). He has spoken at numerous conferences and churches in the U.S. and abroad.

Mark Rushdoony has lived in Vallecito, California, since 1978.  His wife, Darlene, and he have been married since 1976. His youngest son still resides with him. He has three married children and nine grandchildren.

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