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O socialismo como uma guerra civil perpétua

O socialismo e o comunismo pressupõem que o sistema destes representa a verdadeira ordem das eras e é a resposta aos problemas do homem. Essa suposição é uma que afirma que os problemas do homem não são espirituais, mas materiais; não é o pecado, mas o ambiente. Mude o ambiente do homem e você então irá refazer o homem, é crido. A resposta aos problemas do homem é, portanto, não a regeneração espiritual do homem por meio de Jesus Cristo, mas a reorganização da sociedade por meio do Estado socialista científico.

R. J. Rushdoony
  • R. J. Rushdoony
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Tradução: Nathan Cazé[1]
Título original: Socialism as a perpetual civil war
Originalmente publicado em 22 de dezembro de 2009
Fonte: https://chalcedon.edu/blog/soc...

O socialismo e o comunismo pressupõem que o sistema destes representa a verdadeira ordem das eras e é a resposta aos problemas do homem. Essa suposição é uma que afirma que os problemas do homem não são espirituais, mas materiais; não é o pecado, mas o ambiente. Mude o ambiente do homem e você então irá refazer o homem, é crido. A resposta aos problemas do homem é, portanto, não a regeneração espiritual do homem por meio de Jesus Cristo, mas a reorganização da sociedade por meio do Estado socialista científico.

Básico para a teoria do socialismo científico é o seu conceito de infalibilidade. Todo sistema de pensamento tem um conceito de infalibilidade, mas poucos são honestos o suficiente para admitir isso. Autoridade suprema, final e inerrante é investida nalgum lugar no sistema como sendo o árbitro básico e seguro da verdade ou realidade. O Estado socialista científico concebe o socialismo científico como a verdade infalível da história; a sua aplicação assegura a ordem social perfeita. Se falhas ocorrerem nos Estados socialistas científicos, não é culpa do socialismo científico, o qual é por definição infalível e verdadeiro, mas culpa de pessoas hostis, remanescentes da classe capitalista, ou membros traiçoeiros do partido. Pela razão de que o Estado socialista não pode culpar a si mesmo, ele deve travar guerra civil contra alguma porção do Estado. Portanto, em primeiro lugar, a resposta do socialismo para todos os problemas é a guerra civil. Alguém é culpado, mas nunca o próprio socialismo.

Há muitas ilustrações disso. A União Soviética encarou uma situação de expurgos contínuos. Os expurgos da década de 1930 destacam-se como sendo meramente mais dramáticas que àquelas de rotina. Mas toda crise na União Soviética demanda um bode expiatório, e guerra é, portanto, travada contra alguma porção do Partido, da burocracia, ou das massas.

Na China comunista, de acordo com uma notícia de sexta-feira, 24 de março de 1967, pestilência irrompeu largamente com muitas doenças contagiosas espalhando-se pelo país. A resposta do regime comunista a uma crise já séria era de ameaçar os médicos da China com um expurgo. Os médicos eram responsáveis, a Rádio Xangai declarou, porque eles “tinham ignorado as políticas saudáveis de Mao”.[2] A consequência de uma política como tal, o expurgo de médicos num país com uma séria carência de médicos, somente agravou uma situação séria, mas qualquer coisa é preferível do que admitir que o socialismo pode cometer erros e ser uma teoria errônea.

Nos Estados Unidos, a inflação é um produto do afastamento do governo federal de um padrão rígido de dinheiro, do ouro para o papel, e um produto de sua dívida existente ou déficit de financiamento. A culpa da inflação é, essencialmente, a culpa do governo federal. Mas a culpa é, ao invés, transferida por parte dos oficiais federais ao setor privado: o trabalho está criando inflação ao demandar salários maiores, e os negócios são inflacionários porque estes demandam preços maiores pelos bens, e ameaças são feitas de controles de salários e preços. As demandas de capital e trabalho são, é claro, os resultados da inflação e as medidas daquelas para proteger a si mesmas contra esta, mas a política do socialismo é imputar toda a culpa ao povo, e toda a sabedoria ao Estado, em todas as crises.

Nestes e noutros casos, a resposta sempre permanece a mesma: o Estado socialista trava guerra contra as pessoas. Sempre que o Estado socialista científico comete um erro, o povo sofre.

O segundo aspecto dessa arte de guerra é que ela é uma guerra civil perpétua por causa do fracasso perpétuo. O socialismo é incapaz de resolver qualquer problema que venha a tentar resolver na esfera econômica. Pela razão de que as suas premissas são insanas e completamente erradas, suas conclusões são, consistentemente, fracassos. Mas, visto que o socialismo é, por definição, a resposta científica aos problemas da sociedade, o socialismo não pode culpar a si mesmo. Consequentemente, ele trava guerra civil perpétua com sua resposta ao fracasso perpétuo.

Terceiro, a consequência desta guerra civil perpétua é uma crise cada vez mais em aprofundamento. A propaganda trabalha para disfarçar a crise. Sempre nos é dito que a União Soviética está progredindo econômica e industrialmente e está tornando-se numa ditadura mais branda, mas a realidade é que ela tem meramente passado de crise a crise e tem enfrentado uma escassez alimentar crescente como uma homenagem a sua incompetência. Os outros socialismos do mundo têm problemas semelhantes. O pequeno Estado socialista fabiano da Grã-Bretanha está afundando constantemente nas consequências econômicas de suas próprias políticas, e outros Estados fabianos enfrentam uma crise monetária e econômica crescente. O socialismo nunca é a saída para o socialismo, mas simplesmente a garantia de um beco sem saída econômico.

Quarto, essa guerra civil perpétua pode e irá terminar na morte do Estado, e possivelmente da civilização também. Ela é destrutiva dos recursos públicos e privados do Estado; o Estado socialista pode, às vezes, construir monumentos de pedras e edifícios, mas ele não pode perpetuar uma ordem social viva; ele pode apenas matar a ordem que ele confisca ou herda. Tem sido observado, frequentemente, que é somente quando uma civilização está morrendo que ela começa a construção de monumentos. Antes disso, a sua preocupação é mais com a vida do que com o espetáculo. Não podemos, portanto, interpretar mal a predisposição do socialismo quanto à construção de monumentos como um sinal de vida; o socialismo é uma construção de lápide.

Quinto, a guerra civil perpétua significa, de alguma forma, violência perpétua ou força repressiva e, por conseguinte, o uso de terror não é apenas aceito, mas frequentemente é justificado e exaltado. O terror é defendido e mantido como necessário para suprimir os inimigos do povo e para proteger o Estado da destruição. Jean-Paul Sartre, em sua Critique of Dialectical Reason, falou a respeito de terror como “o próprio vínculo da fraternidade”. O terror é feito num princípio moral e numa exigência inevitável da história. Como resultado, o “terror total” é praticado como uma exigência necessária e moral de socialismo científico. Brutalidade incrível, barbarismo, selvageria e degeneração tornam-se os produtos de socialismo científico.[3] Portanto, a guerra civil perpétua que o socialista científico trava contra seu povo é, também, uma forma de guerra total. Esta é mais radical do que a guerra total, pois a guerra total ocorre por um certo período de hostilidades, ao passo que a guerra civil socialista e sua arte da guerra terrorista não têm fim. Isso é uma ameaça perpétua ao povo, e, em graus variados, é continuamente praticado. Quanto mais o Estado aproxima-se do socialismo total, a este mesmo grau ele também aproxima-se do terror total e guerra civil total. É nesse aspecto de guerra perpétua e total que tem feito socialistas como o George Orwell, autor do 1984, renunciar em horror ao socialismo, sem realmente crer em qualquer outra coisa. A estes não se pertence uma conversão, mas simplesmente revolução do terror.

Tal situação como esta, é claro, destrói a vontade de trabalhar e a vontade de viver quanto aos povos sujeitos. A esperança de fuga, ou esperança que o regime socialista acabará, começa a enfraquecer-se, e o resultado é grande desaceleração na produção agrícola e industrial. Esse declínio na produtividade gera uma crise grave, e os líderes socialistas devem dar ao povo alguma razão para crerem que existe esperança de uma mudança, um “degelo”, no terror e opressão socialistas. Uma vaca, apesar de tudo, finalmente não dará leite se ela não for alimentada, e, semelhantemente, as massas, como gados humanos, recebem forragem o suficiente para se tornarem produtivas novamente. Os subordinados são culpados pelos sofrimentos anteriores das vacas, pobres gerentes. Stalin, por exemplo, culpou os oficiais menores os quais estavam, supostamente, muito ansiosos para alcançarem o socialismo perfeito de um dia para o outro. Lidando com a coletivização forçada de fazendas, numa declaração Pravda de 3 de abril de 1930, o Stalin declarou que a política era uma “voluntária”, mas infelizmente alguns oficiais estavam fazendo ameaças e pressões.[4] Foi depois dessa declaração que milhões passaram fome até a morte por terem resistido a coletivização, mas, Stalin, antecipadamente, livrou-se publicamente de responsabilidade e também encorajou aqueles que eram hostis a se sentir mais livres para tomarem uma posição. Khrushchev também fez promessas de um degelo, e em seguida lançou o terror cruel na Hungria, e o terror maior e ainda em andamento contra os cristãos.

Os propósitos desses breves degelos e respiros são estratégicos: eles servem para dar esperança de uma mudança a uma população desesperada. Isso, então, é simplesmente um sexto aspecto da guerra civil do socialismo contra o seu povo. O degelo cria um desvio da política socialista apenas para o propósito de reforçar esta mesma política.

Isso aponta, claramente, para um sétimo aspecto da guerra civil perpétua do socialismo: a verdade é, em todo o tempo, um acidente. Já que não existe verdade à parte do Estado socialista científico, qualquer plano, qualquer mentira, qualquer estratégia que irá avançar o experimento socialista, é válido. A mentira é proferida para iludir as massas e o inimigo; a expressão tem como o seu propósito não a comunicação da verdade, mas a utilidade à ditadura do proletariado como uma arma da arte de guerra. A semântica, portanto, torna-se a maior preocupação do socialismo. A linguagem deve ser usada; ela é uma arma magnífica. Certas palavras têm significados poderosos a muitos homens, e uma forma de usar as mentes dos homens contra eles mesmos é de usar mal as palavras que têm um significado específico a eles. Esperar que a linguagem tenha o mesmo conteúdo para um socialista e para um cristão, é um delírio. Para o socialista, a linguagem é instrumental; ela é uma ferramenta da revolução. Ao invés de representar um meio de comunicar uma ordem objetiva da verdade, a linguagem é basicamente um instrumento de poder. Para o Estado socialista negligenciar a utilização da linguagem como um instrumento de poder significaria que ele é culpado de sentimentos e ilusões burguesas.

Isso, então, é o plano de ação, guerra civil perpétua, exigida pelo Estado socialista científico para manter o seu delírio de infalibilidade. Essa guerra civil perpétua é uma consequência de seu afastamento de Deus e de seu socialismo. Isso é um rumo suicida, rumo este bem descrito por parte de nosso Senhor, quando Ele declarou, “Mas o que pecar contra mim violentará a sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte” (Prov. 8:36).

[1] E-mail do tradutor para contato: [email protected]. Traduzido e publicado em dezembro de 2017. Esta tradução está oficialmente disponível no blog monoergon.wordpress.com

[2] Oakland Tribune, “China Hit by Outbreak of Pestilence,” Friday, March 24, 1967, 1.

[3] Albert Kalme, Total Terror (New York, NY: Appleton-Century-Crofts, 1951), e Harold H. Martinson, Red Dragon Over China (Minneapolis, MN: Augsburg, 1956).

[4] W. R. Werner, ed., Stalin Kampf (New York, NY: Howell, Soskin, 1940), 252-257.

Rev. R. J. Rushdoony (1916-2001) foi um grande teólogo, especialista sobre igreja/Estado, e autor de várias obras sobre a aplicação da lei bíblica à sociedade. Ele criou a Fundação Chalcedon em 1965. Suas Institutes of Biblical Law (1973) deu início ao movimento de teonomia contemporânea o qual postula a validade da lei bíblica como o padrão, de Deus, de obediência para todos. Ele, portanto, viu a lei de Deus como a base da resposta cristã moderna ao declínio cultural, uma que ele atribuiu ao falso entendimento da igreja a respeito da lei de Deus sendo oposta à Sua graça. Ele descreveu essa resposta cristã ampla como “Reconstrucionismo cristão”. Ele é creditado por ter acendido os movimentos modernos de escola e homeschooling cristãos de meados ao final do século XX. Ele também viajou extensivamente ensinando e servindo como uma testemunha especialista em inúmeros processos judiciais a respeito de liberdade religiosa. Muitos esforços ministeriais e educacionais que continuam hoje, tomaram suas raízes filosóficas e bíblicas das palestras e livros dele.


R. J. Rushdoony
  • R. J. Rushdoony

Rev. R.J. Rushdoony (1916–2001), was a leading theologian, church/state expert, and author of numerous works on the application of Biblical law to society. He started the Chalcedon Foundation in 1965. His Institutes of Biblical Law (1973) began the contemporary theonomy movement which posits the validity of Biblical law as God’s standard of obedience for all. He therefore saw God’s law as the basis of the modern Christian response to the cultural decline, one he attributed to the church’s false view of God’s law being opposed to His grace. This broad Christian response he described as “Christian Reconstruction.” He is credited with igniting the modern Christian school and homeschooling movements in the mid to late 20th century. He also traveled extensively lecturing and serving as an expert witness in numerous court cases regarding religious liberty. Many ministry and educational efforts that continue today, took their philosophical and Biblical roots from his lectures and books.

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