Planejamento
Tradução: Nathan Cazé[1]
Título original: Planning
Originalmente publicado em 18 de junho de 2012
Fonte: https://chalcedon.edu/resource...
Uma das coisas que escutaremos mais e mais hoje em dia é planejamento. Planos-mestres estão ou sendo desenvolvidos para cada comunidade, país, estado, empresa e grupo, ou então estão destinados para o desenvolvimento. Junto a isso estão bancos de dados, dossiês fornecendo informações completas a respeito de cada indivíduo, organização ou grupo. Algumas declarações feitas por parte dos planejadores são alarmantes. Assim, Mel Scott, ao propor uma área metropolitana para o governo na Carolina do Sul, disse, “Num desses dias será criada nesta região metropolitana uma agência de reassentamento urbano...Deveria ser a agência mais heterodoxa já concebida e deveria ser livre para experimentar com uma grande variedade de serviços, projetos, métodos e poderes jurídicos”. Por outro lado, alguns planejadores estão, eles próprios, alarmados com a ameaça potencial quanto ao planejamento. Quer sejam liberais[2] ou socialistas, eles creem que seu planejamento é para o bem do homem, e as implicações perigosas de planejamentos assustam a eles. Assim, o planejador Albert Mindlin tem perguntado, “Ao marchar corajosamente avante para uma Utopia de 1984, não estamos também pavimentando cegamente o caminho para um possível Big Brother de 1984?”.
A resposta é obviamente sim. O socialismo baseia-se em dois fundamentos: Primeiro, dinheiro gerenciado, dinheiro falso ou dinheiro em papel. Visto que o dinheiro é a vida-sangue da economia, o controle de uma economia requer o controle de dinheiro. Quando o controle de dinheiro começa, o socialismo sucede, quer seja intencional ou não. Segundo, o planejamento é a próxima exigência. Para gerir uma economia, é necessário aumentar os controles sobre a economia, e isso exige um planejamento cada vez maior e, finalmente, um planejamento total. Para gerir uma economia, você precisa controlar e planejá-la, e o controle começa com o dinheiro e espalha-se a todo o aspecto da vida do homem.
Planejamento significa várias coisas. Primeiro, seu objetivo é controle total sobre o homem para providenciar ao homem todos os benefícios que o socialismo oferece. Para o socialismo funcionar, controle total é necessário. Segundo, isso significa que deve haver um plano total para o homem. Escutaremos cada vez mais sobre planejamento total. É impossível ir para qualquer esquina dos Estados Unidos e fugir do plano mestre para a área, e para você mesmo. O socialismo quer salvar o homem, e para salvá-lo aquele deve planejar e controlar a vida deste. Terceiro, para planejar e controlar o homem, é necessário ter conhecimento total a respeito do homem. Como resultado disso, bancos de dados e dossiês estão sendo acumulados para fornecer esse conhecimento total a respeito de cada homem, comunidade, grupo, vocação e todas as demais coisas.
Um marxista, Maurice Cornforth, numa importante obra, Marxism and the Linguistic Philosophy (International Publishers, 1965), escreveu: “O objetivo da política socialista e planejamento socialista é, obviamente, produzir uma abundância absoluta de bens e serviços, para que tudo o que qualquer pessoa venha a necessitar esteja disponível a ela. E, à parte de obstáculos de interferência externa, calamidades naturais e erros de planejamento, todos os quais são superáveis, não há razão por que este objetivo não deva ser alcançado” (p. 327).
No planejamento total, o Estado toma o lugar de Deus, e ele nos dá a predestinação por meio do homem, predestinação por meio do Estado socialista, como o substituto da predestinação de Deus. Mas, como disse Cornforth, para realizar isso, o Estado deve estar livre de oposição, desastres naturais (os quais não são planejados, como secas e enchentes), e também livre de erros humanos. Que ordem impressionante é isso!
O que acontece na realidade quando o Estado começa a planejar? O quanto mais forte torna-se o Estado, mais extensivo torna-se o seu planejamento, e mais sério torna-se as suas punições pela não conformidade. As estatísticas de um Estado diminuem em precisão na mesma proporção que o estado aumenta em potência. Um Estado poderoso requer sucesso de sua burocracia, e este demanda conformidade. Este recebe conformidade, mas não o sucesso. Cada Plano Quinquenal na União Soviética foi planejada com base em estatísticas fornecidas por cada divisão de estado e indústria, e agricultura também. As estatísticas foram desonestas. Homens temiam relatar o caos que existia em suas áreas, e eles forneceram estatísticas manipuladas como resultado disso. O planejamento soviético, portanto, fundamentava-se em estatísticas errôneas. Quando o plano terminou, quem queria relatar o fracasso e ir para a Sibéria? Todas as pessoas relatavam o sucesso. Assim, o plano foi um sucesso; a URSS estava alcançando os EUA, e o povo estava passando fome enquanto as estatísticas relatavam uma boa colheita!
Não é necessário, entretanto, ir à União Soviética para ter-se estatísticas desonestas. Elas existem em todos os lugares e em todos os Estados. Quando as potências europeias apoderaram-se da África, elas trabalharam para civilizá-la. O canibalismo foi proibido. Nessas circunstâncias, cada administrador colonial queria relatar o sucesso e adquirir promoção, e, então, eles relataram um declínio constante no canibalismo e um aumento na civilização. Assim, eles foram promovidos a uma posição mais alta depois de terem declarado um declínio de 30% no canibalismo. Seus sucessores seguiram uma prática semelhante até que o canibalismo fosse estatisticamente abolido e a civilização reinasse na África! Mas a diferença entre estatísticas e realidade apareceu quando as colônias adquiriram independência e o canibalismo reviveu. A Nigéria era considerada como uma atração turística de independência africana, com bastante educação, com diplomas britânicos de muitas universidades notáveis, e com Primeiro-Ministro, o Senhor Abubaker Tafaw Balewa, nomeado cavalheiro por parte da Rainha Elizabete. Infelizmente, em 15 de janeiro de 1965, o Senhor Abubaker, o Senhor Ahmado Bello e outros dignitários provaram ser a atenção principal num jantar organizado “por democratas locais e humanitários”.
Estatísticas dos EUA, fornecidas por parte dos governos federal, estadual, do condado e municipal, são um pouco melhores, e quanto mais alto alguém vai, pior tornam-se elas. Estatísticas são dados econômicos; mas, quando coletadas para uso do Estado, elas tornam-se fatos políticos, e elas são, portanto, corrompidas, deturpadas e alteradas para servirem a interesses políticos. Uma empresa deve ter dados estatísticos precisos sobre vendas, custos, e produção, ou esta irá falir. Do início ao fim, estatísticas de negócios são fatos econômicos e são governados por realidades econômicas rígidas. Mas, do início ao fim, sob as estatísticas do socialismo estão os fatos políticos e são governadas por realidades políticas. Como resultado, a realidade econômica é suprimida, e o resultado é a continuação do poder político por um tempo juntamente com o caos econômico.
Isso é uma nêmesis do socialismo. O socialismo não funciona porque, primeiro, este tenta assumir a função e prerrogativa de Deus, que é impossível. E, segundo, porque o socialismo destrói a ordem econômica ao dar primazia política e poder acima da economia. E já que a administração política da esfera econômica é um princípio básico do socialismo, o socialismo é, por natureza, envolvido numa contradição e numa impossibilidade.
Como, então, sobrevive o socialismo? Há dois caminhos para a sobrevivência do socialismo: Primeiro, o socialismo é parasitário. Ele deve alimentar-se de um corpo saudável para sobreviver. Um parasita somente pode viver enquanto este tiver um corpo saudável ou vivo para alimentar-se. Quando o corpo hospedeiro morre, o parasita ou encontra outro hospedeiro ou morre também. Hoje em dia, os EUA é o corpo hospedeiro para os parasitas do mundo, e ele está sangrando até a morte. Segundo, visto que o socialismo é parasitário, ele é imperialista. Todo Estado socialista deve capturar países sadios para destripar as suas economias e sobreviver um pouco mais. Quer seja militar ou de outra forma, o imperialismo torna-se uma necessidade para o socialismo. Não precisamos estar surpresos, pois, a respeito da agressão contínua de uma era socialista.
Planejamento mestre, portanto, termina numa obra-prima de anarquia, iniquidade e confusão. O plano do homem está falindo em todos os lugares, como isso necessariamente deve acontecer. Somente o plano de Deus permanece assegurado, e devemos mover-nos em termos dele.
(Retirado de Roots of Reconstruction, p. 568; Chalcedon Report No. 12, September, 1966)
[1] E-mail do tradutor para contato: [email protected] Traduzido e publicado em dezembro de 2017. Esta tradução está oficialmente disponível no blog monoergon.wordpress.com
[2] Nota do tradutor: os liberais nos EUA pertencem à esquerda.
Rev. R. J. Rushdoony (1916-2001) foi um grande teólogo, especialista sobre igreja/Estado, e autor de várias obras sobre a aplicação da lei bíblica à sociedade. Ele criou a Fundação Chalcedon em 1965. Suas Institutes of Biblical Law (1973) deu início ao movimento de teonomia contemporânea o qual postula a validade da lei bíblica como o padrão, de Deus, de obediência para todos. Ele, portanto, viu a lei de Deus como a base da resposta cristã moderna ao declínio cultural, uma que ele atribuiu ao falso entendimento da igreja a respeito da lei de Deus sendo oposta à Sua graça. Ele descreveu essa resposta cristã ampla como “Reconstrucionismo cristão”. Ele é creditado por ter acendido os movimentos modernos de escola e homeschooling cristãos de meados ao final do século XX. Ele também viajou extensivamente ensinando e servindo como uma testemunha especialista em inúmeros processos judiciais a respeito de liberdade religiosa. Muitos esforços ministeriais e educacionais que continuam hoje, tomaram suas raízes filosóficas e bíblicas das palestras e livros dele.
Topics: Statism, Economics, Culture , Government, Philosophy, Christian Reconstruction, Socialism, World History